Chegamos em Guiné-Bissau!

Antes tarde do que nunca...
E eu não estou me referindo à primeira visita à Guiné-Bissau (embora isto se encaixe perfeitamente), mas à publicação deste texto.
Para os que foram citados, peço que me envie alguma correção, caso encontre alguma imprecisão no texto.
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Chegamos em Guiné-Bissau!

Dia 30 de outubro de 2015, às 13h, desci do avião para pisar no asfalto desgastado da pista lateral do Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, nome de um herói nacional, um ex-combatente, ex-presidente.
Sexta-feira 'normal' de sol, 35ºC, céu sem nuvens, indicando que a época das chuvas já havia passado, embora ainda caísse aqui e ali alguma "chuvinha". 
Já estavam à minha espera o missionário Sandro, de Moçambique, meu companheiro de ministério nesta primeira visita, e o Pr. Miguel Indibe, um dos líderes da Igreja Evangélica, a maior denominação de Guiné.
Há anos atrás, ao viajar para Moçambique, já tinha sentido a tensão que é entrar em um país africano sozinho, especialmente no 'controle da bagagem', onde normalmente suas malas são abertas e um interrogatório nem sempre muito fluido passa acontecer. Desta vez, com a presença de um local (Pr. Indibe) com um papel na mão, nem sequer uma pergunta foi feita.
Dali fomos almoçar no restaurante Papaloka, que fica ao lado do Benfica, sim, o mesmo de Portugal (depois fiquei sabendo que há também o Sporting Guineense). E de lá nos dirigimos ao que seria minha casa nos próximos sete dias, a antiga sede da Missão WEC, que hoje é usada pela Igreja Evangélica para várias atividades, abriga o ITA (Instituto de Tradução e Alfabetização), que mantém um trabalho de tradução da Bíblia na língua falada pelo povo, o Crioulo, e também para outros dialetos locais, e ainda algumas casas para receber missionários de forma temporária.
As instalações são bem simples, mas notamos o esforço dos irmãos em nos receber, preparando um quarto para cada um de nós, cada um deles com um ventilador. O calor aqui é realmente um fator a se considerar. Não esfria nem de noite! O Sandro brincava comigo a dizer que não tinha água quente no chuveiro, mas eu disse que ele havia se enganado. Afinal, a água que saía daquele duche era morninha, e de forma sustentável, naturalmente.
À tarde, fomos visitar um hotel que tem um salão para reuniões, tendo em vista a possibilidade de organizar a primeira Conferência Fiel em Guiné. O Sandro, juntamente com o Pr. Indibe, já havia feito algumas visitas, de forma que restava apenas esse e mais um que seria mais adequado. Ainda fomos conhecer as futuras instalações do IBAD, instituto das Assembleias de Deus, mas estas ainda não estão totalmente prontas e ainda por decidir se poderão ser usadas por outras instituições.
No sábado pela manhã, fomos visitar a Igreja de Antula Paal, onde acontecia uma reunião dos obreiros. Eu e o Sandro pregamos para aqueles irmãos.
Nesta altura, eu já sentia um estranho cansaço por conta do calor. Uma simples visita à loja da empresa de telefonia, transforma-se numa experiência um pouco mais complicada. A loja estava fechada (não ficamos a saber da razão) mas há um "atendimento paralelo" que é realizado do lado de fora por vários homens que passam o dia na frente dos portões da empresa a vender aparelhos de telefone e cartões. O objetivo era carregar mais créditos, o que demorou mais de meia hora, enquanto esperávamos no carro, embaixo do sol. À medida que o tempo passava, aumentava a sensação de que estávamos a derreter, o que parece sentido figurado, mas na prática já não parecia ser. De fato, depois do almoço e do banho do retorno à sede da missão, já não sobravam mais forças.
Domingo de manhã voltamos à igreja para participar do culto, onde o Sandro pregou. Eu preferi observar, visto que não estou inserido no contexto africano, como ele, na experiência de Moçambique. O culto é precedido de um longo período de oração, onde um obreiro conduz a reunião, levantando motivos. As orações são feitas de modo coletivo, todos ao mesmo tempo. Depois cessam e o obreiro volta com novos motivos, e assim, sucessivamente por mais de uma hora.
Aquele domingo era especial, dia da Ceia do Senhor, realizada mensalmente, e por esse motivo tivemos a apresentação de um Coro de Mulheres, vestidas de branco. Depois veio o momento de louvor, conduzido em sua maioria por jovens. Apesar de tudo ser cantado em Crioulo, é perceptível a grande influência ocidental, com a adição de instrumentos eletrônicos, como o caso do teclado, que também fazia as vezes de bateria. E tudo em alto (muito alto) som. No final, fica sempre a grande experiência de ter participado de culto africano (quem já participou sabe como é diferente e interessante).
Segunda-feira, dia da grande reunião de obreiros. Recebemos 60 pessoas, entre missionários e lideres locais. Conhecemos pessoalmente os missionários Paulo Serafim, da APMT, Ivanildo, da Missão Além (tradução), Cicilia, casada com o Pr. Beto, um simpático guineense, e a Adriana, da Missão Batista, que acabara de inaugurar uma livraria evangélica, segundo ela, "pela fé". Depois de falar sobre o Ministério Fiel, dei uma palestra sobre Pregação Expositiva, baseada no livreto de Allistair Bagg, 'Pregando para a Glória de Deus'. Depois disso, o Sandro distribuiu algumas fichas de inscrição para a fila de espera do MAP (Ministério Adote um Pastor), enquanto algumas instruções iniciais iam sendo dadas. Depois conversamos um pouco sobre a possibilidade da realização da Primeira Conferência Fiel para Pastores e Líderes de Guiné-Bissau, sendo que o mês de novembro pareceu ser o mais adequado, visto que naquela altura do ano a temperatura não está tão alta e não há chuvas.
Ao final, distribuímos os 100 exemplares de alguns títulos que trouxe de Portugal e oferecemos um lanche. Algumas boas conversas rápidas e uma pequena reunião com os missionários, onde tratamos da necessidade de receber a ajuda deles na realização da Conferência.
Saímos dali para almoçar, extenuados, como se a carga tivesse sido extraída subitamente, depois da tão aguardada e exitosa reunião. O Sandro viajaria na madrugada seguinte, saindo para o Aeroporto as 0h00 para aguardar o voo.
Na quarta-feira, depois de me recuperar de uma indisposição de estômago, fui conhecer a Livraria Speransa (está em Criolo), inaugurada pela missionária Adriana. As instalações são partilhadas com o projeto de escola piloto. É uma casa adaptada para ser escritório e livraria, com uma sala para aulas. Tudo bem organizado e limpo. 
A Adriana explicava a grande dificuldade que tinha enfrentado para ter os primeiros poucos livros que estavam expostos nas prateleiras, além de alguns exemplares do Novo Testamento em Crioulo e alguns materiais de estudos. Disse que, dos primeiros contatos que fez com as editoras, apenas uma respondeu, a Fiel. Lá estava um jovem estudante de Medicina que se dispôs a ajudar no período da tarde, após as aulas pela manhã. E é assim que ela espera manter a livraria aberta, com a cooperação de jovens estudantes.
Na quinta-feira, penúltimo dia desta primeira jornada, fui visitar as instalações da missão presbiteriana, onde funciona um recente Instituto Bíblico, coordenado pelo missionário Paulo Serafim. Lá dei uma aula tendo como base um modelo de pregação expositiva, uma espécie de pregação-aula. 
Dali fui almoçar na casa do Paulo, conheci a esposa Maria e os filhos. Conheci a biblioteca que será transferida para as instalações do Instituto em breve.
Na sexta-feira, reunião com o Pr Indibe e com o Pr. Purna Gili, para pontuar as necessidades iniciais. Vamos montar um grupo de trabalho e nos comunicar por e-mail (louvado seja o Senhor pela tecnologia). Talvez será necessário retornar em alguns meses para amarrar as pontas soltas, trazer material de divulgação e inscrição, verificar se as coisas estão caminhando e distribuir tarefas. A proposta de montar um grupo de trabalho inicial com irmãos de várias denominações, reforça o papel interdenominacional da Fiel, de unir os crentes em torno da Sã Doutrina, e evita qualquer tipo de isolamento ou separação. E isto, pelo menos nesta primeira visita, pareceu ser possível fazer.
Oremos, para que o Senhor da Glória, possa abençoar os passos que serão dados daqui para a frente e que todo o trabalho de nossas mãos seja transformado em frutos de uma igreja mais bíblica e saudável nesta terra tão carente de tudo, chamada Guine-Bissau.

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