Discurso sobre o pecado, ou Hamartiologia

Hamartiologia deriva da junção de duas palavras gregas: hamartía, que significa pecado e logos, que significa “palavra” ou “discurso”. Hamartiologia é literalmente um discurso sobre o pecado.

É interessante notar como esse estudo tem se afastado cada vez mais dos púlpitos de muitas igrejas nos dias de hoje. Lembro-me de uma experiência pessoal que ilustra bem esse afastamento. Numa época em que era organizada em nossa cidade uma Olimpíada Evangélica, nossa igreja participou de algumas atividades e torneios, entre eles da competição de futebol de salão. Era regra que todos os “atletas" fossem membros da igreja que representavam. Numa determinada partida, nossa equipe sofreu ao jogar com pessoas que tinham um comportamento, no mínimo, inaceitável para um cristão. Alguns usavam de artifícios para minar a paciência dos nossos atletas que eu nem sequer tinha visto em pessoas não regeneradas. Sem contar com a violência que usavam de forma deliberada em suas jogadas. Ao confrontar o “pastor" daqueles atletas, a resposta foi: “Meu ‘irmão’, a minha responsabilidade é sobre a salvação deles. A forma como eles procedem ou se comportam, é problemas deles. É o pecado deles com Deus…”

Para nós fica claro que esse ‘pastor' não estudou sobre a hamartiologia em seu curso, no seminário, ou então, não trata o assunto do pecado como aquilo que Paul Washer define como “o centro do problema do homem”. 
Passo a a transcrever abaixo, um trecho do seu livro “O Poder do Evangelho e sua Mensagem”, (Editora Fiel), no capítulo 10, que trata brilhantemente do assunto:

"O centro do evangelho é a morte de Cristo, e Cristo morreu pelo pecado. Portanto, não pode haver uma proclamação do evangelho sem um tratamento bíblico do pecado. Isso inclui explicar a natureza hedionda do pecado e expor os homens como pecadores. Embora o tema do pecado esteja, de certa forma, fora de mo’a, mesmo em alguns círculos evangélicos, qualquer consideração honesta da Escritura no que se refere à cultura contemporânea demonstrará que ainda há uma necessidade de enfatizar o pecado.

A necessidade de uma clara comunicação sobre o pecado é crucial já que vivemos em uma geração nascida e cultivada pelo pecado. Somos pessoas que bebem iniquidade como a água e não pode discernir nossa condição caída, como um peixe que não sabe que está molhado. Por essa causa, devemos nos empenhar em redescobrir a visão bíblica do pecado e da pecaminosidade do homem. Nosso entendimento de Deus e do evangelho depende disso.

Como despenseiros do evangelho de Jesus Cristo, fazemos um desserviço aos homens quando tratamos levianamente sobre o pecado, contornando ou evitando completamente o problema. Os homens possuem só um problema: eles estão sob a ira de Deus por causa de seus pecados. Negar isso é negar uma das doutrinas mais fundamentais do cristianismo. Não é falta de amor dizer aos homens que eles são pecadores, mas é a forma mais grosseira de imoralidade não lhes contar. Na verdade, Deus declara que o sangue deles estará em nossas mão se não o alertarmos de seus pecados e do juízo vindouro. Tentar pregar o evangelho sem fazer do pecado um problema é como tentar curar superficialmente a ferida do povo, dizendo: “Paz, paz”, quando não há paz.

O livro de Romanos é o mais próximo de uma teologia sistemática que temos nas Escrituras. Nessa carta, o apóstolo Paulo demonstra sua teologia à igreja de Roma. Ele procurou prepará-los para sua vinda e esperava que eles se juntassem a ele em sua expedição missionária para Espanha. É extremamente importante notar que os primeiro três capítulos dessa carta, com a exceção de uma breve introdução, são dedicados a hamartiologia, ou a doutrina do pecado. Por três capítulos, o apóstolo labuta com todo seu intelecto e sob inspiração do Espírito para alcançar um único e sublime propósito: provar a pecaminosidade do homem e condenar o mundo inteiro!

É comum que cristãos insistam que Deus não nos deu um ministério de condenação e morte, mas de justiça, reconciliação e vida. Isso é muito verdadeiro, mas não significa que não devamos falar bastante sobre o pecado ou usar as Escrituras para trazer os homens sob a convicção do Espírito com respeito de seu pecado. É verdade que não há condenação “em Cristo Jesus”, mas também não há nada a não ser condenação fora dele."

Que o Senhor nos ajude a viver de forma piedosa, tendo em conta nossa precária situação de pecadores, que nos impede de viver uma vida perfeita, mas que não nos impede de buscar a santidade, sem a qual ninguém verá a Deus. Que não sejamos afetados pelo humanismo, que tenta tirar a responsabilidade do homem e colocá-la em fatores externos, numa desesperada e infundada tentativa de diminuir a sua culpa diante do Deus Santo, naquele inevitável dia. Que todos tenhamos a exata noção de que, sem o Senhor Jesus Cristo, nossa condição seria de condenação eterna. A Ele seja toda a Glória!

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Loja Fiel em Portugal: