Aconteceu comigo no dia 29 de Junho. E não foi tão simples quanto o acidente do menininho na foto. Como alguns daqueles que me acompanham sabem, eu tenho desenvolvido uma das minhas paixões que é o hobby de marcenaria. Amo trabalhar e transformar a madeira. E isso requer o manuseio de ferramentas. As elétricas "dão mais jeito" (como se diz aqui em Portugal), mas são perigosas, e demandam mais cuidado e atenção no manuseio. No entanto, à medida que o tempo passa, vamos nos tornando mais confiantes e é aí que entra o perigo!
A serra elétrica de bancada é a ferramenta central da minha pequena oficina de marcenaria, e foi nela que eu quase perdi dois dedos da minha mão esquerda, o indicador e o médio. O dedo médio levou um corte que chegou bem próximo do osso, na altura da articulação entre a falange média e a falange proximal, ou seja na segunda dobra do dedo. Já o dedo indicador foi praticamente decepado, ficando unido apenas por uma pequena área da pele.
Do momento do acidente até a cirurgia (que durou 4 horas), seguiram-se 16 horas de espera, em um hospital lotado de pessoas, num ambiente desfavorável, especialmente por causa do caos trazido pela pandemia do coronavírus. O tempo de internamento pós-cirurgia foi de 11 dias, depois dos quais pude voltar para casa, para começar um tratamento de troca de curativos e sessões posteriores de fisioterapia, que somaram 60 no total.
Pela Graça de Deus o dedo foi reimplantado, e hoje eu posso fazer praticamente tudo o que fazia antes, respeitando apenas algumas dificuldades impostas por não poder movimentar a segunda dobra do dedo indicador, já que este teve de ser soldado na junção, sendo fixado numa posição que os médicos chamam de "posição funcional", com a mão em forma de "concha".
De tudo o que se passou neste período que foi um dos mais marcantes que eu já vivi, sobraram muitas lições:
- Nós somos frágeis! E não é precismo muito esforço para perceber isso. Basta apenas um segundo, e tudo muda! No momento em que me acidentei, minha mente tentou abstrair-se, como se aquilo não tivesse acontecido. Mas não tem jeito. A realidade é dura e cruel a mostrar quão frágeis somos nós.
- Nós somos dependentes! Estar internado em um hospital é uma das lições mais claras de nossa incapacidade de cuidar de nós mesmos. Ali eu estava totalmente dependente de tudo: dos cuidados, da atenção, da intervenção médica, do trabalho dos enfermeiros e dos auxiliares... eu não conseguia nem comer com as minhas próprias mãos! A comida estava ali, mas se não fosse o auxílio de alguém eu não conseguia me alimentar. Nessa hora não há ricos nem pobres, fracos ou fortes, todos somos iguais em nossa dependência e fraqueza.
- Não adianta desesperar! Nas horas que fiquei à espera de uma vaga no bloco operatório, muitos pensamentos passavam pela minha cabeça. Mas nenhum era mais aterrador do que pensar que, por causa daquela demora, eu poderia perder o dedo da mão. Além disso, ouvia muitos lamentos das várias pessoas que estavam ao meu redor naquela situação difícil, a maioria deles demonstrando indignação e desespero diante do quadro de lotação e impossibilidade de tratamentos mais rápidos. Tudo isso era um convite a entrar em desespero também. Mas em todo o tempo as palavras do meu Senhor consolavam minha mente: "Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais! Bem mais valeis do que muitos pardais... Quem de vós, por mais ansioso que possa estar, é capaz de prolongar, por um pouco que seja, a duração da sua vida? Considerando que vós não podeis fazer nada em relação às pequenas coisas da vida, por que vos preocupais com todas as outras? (Lucas 12.7 e 25-26).
- A família é o bem mais precioso que temos! Um dos meus companheiros de quarto no hospital recebeu alta, e isso, ao invés de lhe trazer alegria, trouxe-lhe um problema: ele não tinha família, não tinha para onde ir. Se tinha uma coisa que me aliviava as dores e o desconforto era exatamente o fato de saber que eu tinha uma família que orava por mim, cuidava de mim e me amava. Apesar de não poder ter recebido visitas (por causa do civid), a Rose ia no hospital para me levar algumas coisas, e entre elas, alguns cartões desenhados e escritos pelos meus filhos Vinícius e Marina. Que grande consolo!
- Que grande bênção é ter irmãos na fé! São momentos difíceis como este que nos revelam uma faceta maravilhosa do cuidado do nosso Pai para conosco: temos irmãos que intercedem por nós.
- Deus fala no deserto! O trauma foi intenso, a dor terrível, a incerteza e a insegurança queriam reinar, mas uma coisa ficou bem clara para mim nos dias que passei no hospital: a voz do meu Senhor ficou muito patente aos meus ouvidos espirituais. O Senhor falou comigo de uma maneira íntima, intensa e poderosa na minha fragilidade, dependência e fraqueza. Nos seus vários propósitos ao permitir que eu atravessasse aquele vale, um deles era o falar ao meu coração, que até aquele momento estava um tanto agitado, preocupado com tantas variações, covid, indefinições, incertezas e algumas tristezas que o ministério traz no seu conjunto... De certa forma, na minha agitação, eu havia esquecido de depender do meu Deus, que é Todo-Poderoso, e capaz de cuidar de mim e da minha família. Naquele leito de hospital o Senhor falou claramente comigo: "Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel" (Isaías 41.10).
Sou muito grato a Deus por tudo o que Ele permitiu que acontecesse. Toda a dor e sofrimento me levaram para mais perto do meu Amado Redentor, que sofreu dores incomparavelmente maiores, por amor a mim. Agradeço a Deus pela vida daqueles que Ele, em sua Soberania, usou para cuidar de mim. Peço orações pelo Dr. Nelson Almeida, o médico que fez a cirurgia. Ele se declara ateu, mas ouviu do amor e do poder do Senhor em todas as oportunidades que tive, quando estive com ele. Disse a ele, claramente, que Deus o usou para cuidar de mim. Pense comigo: o hospital está lotado e aparece um doente que tem o dedo indicador da mão esquerda (ou seja, a mão que ele não usa como principal) praticamente decepado. Numa situação como essa, na prática, a maioria dos médicos iria optar por "terminar o serviço", ou seja, por um procedimento mais rápido: amputar e mandar para casa. Mas o Dr. Nelson, contrariando o que seria expectável, resolveu encarar um procedimento cirúrgico que durou quatro horas, dizendo: "Não vamos desistir não... Vamos tentar colocar o dedo de volta. Manda o homem para o bloco que eu vou fazer a cirurgia dele!" Isso não é um milagre?